Mais de
800 agricultores, ambientalistas e representantes de entidades da sociedade
civil lotaram o Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa, na manhã desta
sexta-feira (7), para acompanhar o seminário sobre a realidade e as
consequências do uso dos agrotóxicos no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Promovido em conjunto pelos gabinetes dos deputados petistas Edegar Pretto e
Dionilso Marcon, o evento contou com as presenças da ministra do Meio Ambiente,
Izabella Teixeira, do presidente da Assembleia Legislativa, Edson Brum (PMDB),
e de técnicos de órgãos estaduais e federais vinculados às áreas da saúde e da
vigilância ambiental.
Desde
2008, o Brasil ocupa o posto de campeão mundial no uso de agrotóxicos. Segundo
o Instituto Nacional do Câncer, cada brasileiro consome 7,3 litros do produto
por ano. A média sobe para oito litros anuais no Rio Grande do Sul, sendo a
Região Noroeste, onde estão localizadas as principais lavouras de soja do
Estado, a líder na utilização de agroquímicos. Os dados foram apresentados na
abertura do encontro pelo deputado Edegar Pretto. “Durante muito tempo, as
grandes empresas tentaram incutir a ideia na sociedade de que a não utilização
de venenos na produção era sinônimo de atraso. Para ser moderno, era preciso
envenenar as lavouras. Hoje, sabemos que os pesticidas, além de contaminar o
meio ambiente, causam problemas sérios à saúde da população”, apontou.
Autor de
três projetos de lei que tramitam no Legislativo para restringir o uso destas
substâncias nas lavouras gaúchas, Pretto denunciou que o Brasil ainda permite a
utilização de produtos que já foram banidos dos Estados Unidos e da Europa. As
20 marcas de agrotóxicos mais utilizadas no Brasil, de acordo com o
parlamentar, estão nesta categoria.
A
ministra Izabella Teixeira revelou que o governo federal montou um grupo
integrado por técnicos do Ministério da Agricultura, Ministério do Meio
Ambiente e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avaliar os
agrotóxicos em uso no Brasil, definir as indicações e, se for o caso,
estabelecer novos banimentos. Além disso, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), deverá publicar, até o
final do ano, o perfil dos princípios ativos dos produtos usados na produção de
alimentos no Brasil. “O conhecimento e a transparência são fundamentais para
que possamos enfrentar a questão. Por isso, vamos disponibilizar um sistema de
avaliação técnica para que toda a sociedade tenha informações sobre o que está
consumindo”, afirmou a ministra.
Para ela,
o problema não se restringe ao volume de agroquímicos lançados nas lavouras com
permissão legal. Envolve também a utilização de substâncias contrabandeadas,
muitas das quais já banidas do Brasil. “É um problema sério, que envolve a
venda de produtos sem receituário e sem orientação sobre o seu manejo, gerando
muito dos problemas de saúde relatados pelos agricultores”, apontou.
Na
avaliação da ministra, a redução do uso de agrotóxicos passa pela “ampliação da
agricultura de base ecológica e por um rearranjo político a partir de um amplo
diálogo com a sociedade sobre o impacto da prática no meio ambiente e na saúde
da população”.
O
deputado Dionilso Marcon considera que a principal missão dos militantes da
agroecologia é criar consciência no consumidor. “As pessoas acreditam que estão
consumindo alimentos saudáveis, mas estão ingerindo veneno. Precisamos levar
este debate para dentro das salas de aula, igrejas e entidades da sociedade
civil antes de intensificar a discussão no Congresso Nacional, onde a turma do
agronegócio demonizou o tema”, defendeu.
Consequências
O
presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan),
Leonardo Melgarejo, alertou que não é só a população do campo que está exposta
aos riscos produzidos pelo uso dos agroquímicos. “Os moradores da cidade não
estão seguros. Os venenos estão na mesa, especialmente, nos produtos à base de
milho e soja, na água e no ar. Alguns dos efeitos mais graves não são
imediatos, mas se dão a médio e longo prazos, como as alterações metabólicas”,
ressaltou.
Melgarejo
revelou que, na última safra, o Brasil aplicou 187 milhões de litros de
glifosato. A substância, segundo ele, está associada ao aparecimento de
bactérias resistentes a antibióticos.
Já a
médica Virgínia Dapper, representante da Vigilância Sanitária da Secretaria
Estadual de Saúde afirmou que 70% dos alimentos que chegam à mesa da população
estão contaminados. Ela disse, ainda, que a maior parte dos casos de
intoxicação dos trabalhadores rurais por produtos químicos não é notificada aos
órgãos de saúde. E que grande parte das bacias hidrográficas do Rio Grande do
Sul estão contaminadas. Em alguns locais, na Região Noroeste, o índice chega a
16 litros de produtos químicos por habitantes.
Além de
efeitos imediatos, como alergias e complicações gástricas associadas ao uso de
agrotóxicos, a médica citou estudos, realizados entre os anos 2000 e 2010, que
relatam o aumento de alterações psiquiátricas leves, neuropatias tardias e
câncer entre os agricultores que utilizam estas substâncias. Também foi
confirmada por estudos recentes, segundo ela, a incidência de suicídios entre
os trabalhadores que manejam estes produtos.
De acordo
com o Chefe-Geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Nailto Pillon, é possível
abrir mão do uso dos agroquímicos e adotar soluções tecnológicas em bases
razoáveis de produtividade.
Cadastro
Rural
A
ministra do Meio Ambiente aproveitou o evento para fazer um apelo para que os
agricultores gaúchos façam o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Segundo Izabella,
apenas 3% das propriedades do Rio Grande do Sul foram cadastradas, colocando o
Rio Grande do Sul na posição de lanterna em relação aos demais estados
brasileiros. “Trata-se de uma oportunidade para trabalharmos com total
transparência, respeitando quem produz com respeito ao meio ambiente”,
ponderou.
Após o
seminário, a ministra participou de um almoço com produtos orgânicos no
assentamento Capela, em Nova Santa Rita, onde conheceu as experiências
produtivas da reforma agrária na região da capital
Fonte Leandro Molina
Fotos:
Leandro Molina
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